Entre Pais e Filhos
– Pai? –
– Uhum? –
– Pai, o que você ta
fazendo? –
– Compras –
O filho deu uma olhada por cima do ombro do pai, espiando
a tela do computador.
– O que é isso? –
– Estou comprando ações
da bolsa. Estão todas em queda –
– Se estão todas em
queda... Então por que você está comprando? –
O pai suspirou. Puxou uma segunda cadeira e fez um gesto
para que o filho se sentasse.
– Filho, você acredita
nessa história de profecia Maia e o fim do mundo? –
– Bem, eu... Eu não sei,
me parece bastante improvável –
– É porque tudo isso não
passa de baboseira, papo furado. O mundo não vai acabar, mas os palermas já
estão se desesperando. Ta todo mundo vendendo o que tem e o que não tem pra
passar os últimos dias na farra –
– E você está comprando
tudo pra vender mais caro depois? –
– Isso mesmo. No
desespero, essas pessoas não pensam direito. Falta menos de uma semana pro dia
21, e já ta todo mundo louco. Quando essa febre passar, eles vão se arrepender,
e tentar construir de voltar a vida que eles jogaram fora –
– E a gente vai estar
trabalhando? –
O pai riu alto. Colocou a mão no ombro de seu único e tão
nervoso filho, e respondeu.
– Não, não vamos ficar
trabalhando. Nós vamos passar um maravilhoso natal em família só eu, você e a
sua mãe. Então vamos viajar, passar o ano novo em algum lugar divertido, o que
acha? –
– Parece legal. Podemos
ir pro México? –
– Podemos. E depois
podemos ir pra outros lugares, ver de que forma uma simples palhaçada pode
mexer com o mundo todo –
O filho hesitou. A ideia de que eles estariam viajando e
se divertindo às custas do sofrimento alheio começava a lhe perturbar, mas o
pai não reparou.
– Eu não estou só
trabalhando, filho. Eu estou comprando as melhores férias das nossas vidas –
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