A Passagem
Foi uma espera de quatro dias no
terminal lotado. Era 15 de dezembro, e as pessoas já estavam ficando nervosas.
Seguranças eram chamados a todo momento para resolver conflitos. A maioria
queria, afinal, passar o fim do mundo junto de seus parentes que moravam em
outros países. Fábio não era uma dessas pessoas. Não tinha parentes nem amigos
espalhados pelo mundo. Mal sabia o que estava fazendo ali.
– Pois não? –
Pois não. Pois bem. Foram quatro dias esperando para ser
atendido, e agora Fábio percebia que ainda não tinha decidido para onde queria
viajar.
– Senhor? –
– Eu, bem... Eu queria,
sabe, uma passagem –
– Para onde o senhor
gostaria de ir? –
– É, eu não sei ainda, na
verdade –
– Desculpe? –
– Qual é o primeiro voo
com lugares disponíveis? –
A atendente parecia confusa. Olhava de um lado para o
outro, procurando por uma ajuda que não chegava.
– Me desculpe senhor, eu
não sei se tenho a permissão para fazer isso –
– Permissão pra quê? É só
me vender uma passagem como qualquer outra –
Contrariada, ela aceitou. Nova Zelândia, disse, e
começaram então a discutir preço e método de pagamento. Já com sua passagem na
mão, Fábio começava a se perguntar se aquilo não seria loucura. Nova Zelândia?
Que língua eles falam por lá? Onde sequer é “lá”? Fábio não sabia falar outra
língua que não fosse o português, nem sabia nada sobre o lugar para onde estava
indo. Só sabia uma coisa: ele nunca andara de avião antes, e isso foi a
primeira coisa que passou pela sua cabeça quando, dias antes, lhe perguntaram o
que ele queria fazer antes do fim do mundo.
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