Um Pequeno Sacrifício
Sentia nas mãos um peso muito maior
do que as poucas gramas do bichinho de
pelúcia. Um peso que subia pelos braços, estendendo-se até os ombros e se
alojando em algum lugar abstrato atrás das costas. O que tinha em mãos era
apenas um oferenda, tinha de ser deixada para trás, tanto em matéria quanto em
espírito. As suas lembranças, seus sentimentos, todos os significados que foram
impregnados no pequeno objeto. Alissia tinha agora que deixar tudo queimar,
purificando na fumaça seus erros passados. Uma nova vida se erguia diante dela,
uma experiência inédita para a qual não poderia levar bagagem alguma. Por
diversas razões, escolheu o Pequenino em suas mãos para sofrer a mudança.
Precisava de um símbolo, de um mártir que lhe amaldiçoasse os sonhos e a
fizesse lembrar de que aquele caminho era um caminho sem volta. E como aquelas
lembranças a invadiam! Tomada por um desespero repentino, Alissia abraçou o seu
consolador de sempre, querendo sussurrar em seus ouvidos inanimados qualquer coisa
que o fizesse entender, e foi quando ela percebeu que já sabia qual seria a sua
resposta: que não há o que entender, que é tudo uma loucura, um erro, apenas um
mal entendido. Como ela ousaria assassinar o único que a compreendia? Ele
estava certo, como sempre esteve.
Agindo de súbito, a garota agarrou
forte o pelo de seu amado e deu as costas à fogueira, correndo sem fôlego rumo
a lugar nenhum.
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