Quando a placa cair

            Quem dera ele andasse de cabeça baixa. Desta forma não veria a imensa placa de metal pendurada em sua frente. Talvez fosse melhor assim, pois, se andasse de cabeça baixa, veria no chão um dos pregos que seguravam a imensa placa. Não fez diferença, pois agora estava num impasse. Como poderia prosseguir, sendo que teria de passar por debaixo daquela gigantesca e amarela guilhotina balançando ao vento? Precisaria esperar, pois tinha a certeza de que na cabeça de alguém aquela placa iria cair, e não podia ser na dele.
Uma pessoa passou. A placa balançava, mas continuava lá.
Três era seu número da sorte, iria passar por terceiro. Mas em seguida veio um casal, e ele perdeu o terceiro. A placa continuava balançando. Acima dele uma velha que regava as plantas da janela do apartamento o olhava com desconfiado interesse.
            Três amigos passaram rindo, conversando e gritando. A placa tremeu, balançou, mas não caiu. Ele agora poderia ser o sétimo. Sabia que sete era um número importante, mas não sabia se era para a sorte ou... Bem, era melhor não arriscar. Estava atrasado, mas ainda é melhor estar atrasado e vivo.
            Outro casal passou. A próxima pessoa seria a décima. Dez é um numero máximo, às vezes, logo, a próxima pessoa seria a última. Com certeza o décimo iria morrer.
Mas o décimo veio e se foi. Passou com a bênção da placa, que o cortejou com um balançar leve. Assim foi com o décimo primeiro e o décimo segundo.
            Agora o homem estava definitivamente atrasado. Precisava urgentemente passar, mas jamais, jamais, seria o décimo terceiro. Não poderia passar por aquela placa amaldiçoada carregando um número amaldiçoado nos ombros.
            Subitamente o vento parou. O suave e amedrontador balançar da placa cessou, como se ela estivesse prendendo a respiração, se preparando para cair e acertá-lo como sempre planejara.

            A velha gritou. De susto, mas também de aviso, pois derrubara um dos vasos, que caiu certeiro e letal na cabeça do homem. Ele morreu sem saber que a placa jamais cairia.

Comentários

  1. Fala Bartows, eu escrevia O sobrevivente, se lembra? (http://osobrevivent.blogspot.com.br/) me mande um email estou com novos projetos e as suas criticas eram bem construtivas, aguardo respostas. Abraços

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