O Mistério da Ponte do Caí
A
sombra do pequeno grupo chegou antes deles, assim como o barulho dos pés
correndo sobre a estrada de chão e os gritos excitados e urgentes que ordenavam
pressa.
Clara
viu os meninos passarem velozes por ela sem a notarem, e isso era apenas
rotina. Garotos são idiotas, eles saem correndo e gritando, e nunca se sabe
muito bem para onde eles vão. Ela nem ligava, na verdade, gostava apenas de
conversar com Rique, e é por ele que ela estava procurando. Ele, que sempre foi
tão gentil e quieto, nunca se misturava com aquela turma problemática. Mas
então por que ele estava correndo junto com os outros garotos? Curiosa e
desconfiada, Clara decidiu segui-los. Estavam indo em direção à Ponte do Caí,
nome que sempre lhe despertou interesse. Não era exatamente longe do bosque onde
Rique disse que iria encontrá-la, logo, bastou correr por alguns minutos para
Clara avistá-los. Estavam todos formando uma roda em volta de seu amigo, que se
via encurralado na beirada da ponte. Aproximando-se cautelosamente, a menina de
cabelos sempre soltos e despenteados conseguiu ouvir o que o grupo gritava.
– Vai Henrique, mostra pra gente.
– É, seu mentiroso, cadê aquele portal que tu mostrou pra Clara, hein?
– Ele inventou tudo!
Clara
entendeu, então, o que estava acontecendo. Alguns dias atrás, Rique a trouxe àquela
ponte para ver algo incrível que havia descoberto: um portal para outro mundo.
“Mas só aparece no pôr do sol”, disse ele. Juntos, eles sentaram na beirada da
ponte. Ficaram conversando e atirando
pedras no rio até chegar a hora em que um círculo multicolorido surgiu no meio
das águas, dançou magnificamente com o ritmo da correnteza por alguns segundos
e então desapareceu. Aquilo foi a coisa mais linda que Clara já vira na vida,
mas ela não era mais tão ingênua a ponto de acreditar em portais para outras
dimensões. A incidência da luz em algum ponto específico certamente fazia com
que aquelas cores se refletissem no rio, como um arco-íris líquido. Ainda
assim, naquele dia, ela nada disse, apenas fingiu acreditar naquela magia, e em
como Rique um dia iria levá-la para conhecer outros mundos.
Mas
como aqueles garotos ficaram sabendo disso? Será que ele contou para eles, após
ter afirmado que somente os dois sabiam da existência daquele portal? Ou será
que o grupo os espionou e acabou ouvindo alguma conversa sobre o assunto? De
qualquer forma, ela precisava ir até lá ajudá-lo.
Rique
já estava chorando perante os gritos insistentes, e Clara já corria em seu
auxílio quando ele decidiu reagir, gritando com toda a sua força e desespero.– EU NÃO SOU MENTIROSO! Eu vou mostrar pra vocês!
Nisso, Clara viu o último
feixe de luz do sol que se punha descer em direção ao rio, e aquelas luzes
maravilhosas surgirem em sua superfície. Henrique, num impulso, subiu a mureta
da ponte e pulou em direção ao que ele acreditava ser um portal que o
libertaria de toda aquela humilhação. Clara disparou, seu grito sendo abafado
pelo barulho das águas quando seu amigo as atingiu. Todos os garotos se
amontoavam para ver o que tinha acontecido, mas abriram um espaço para que ela
pudesse enxergar também. Lá embaixo as águas agitavam-se, fazendo com que as
cores hipnotizantes dançassem ainda mais. Não se via sinal algum de Henrique e,
após algum tempo, o sol baixou atrás do cume de um morro distante, dispersando
a maravilha ilusória.
O
rio voltou a ficar cristalino. No fundo dele, as crianças podiam ver claramente
que só havia peixes e pedras, e nada mais.
Foto da ponte que dá para a Ilha da Illusão (se não me engano é essa), no Passeio Público
ResponderExcluirQue lindo este conto! Enquanto eu lia ficava imaginando as luzes coloridas! Muito legal!
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