Um Brinco Perdido


            Anita perdeu um brinco. Deu-se conta disso ao coçar a orelha distraidamente. Tinha essa mania sempre que ficava nervosa, e aquele garoto, tinha de admitir, a deixava mais nervosa que o normal. O encontrou por acaso, sentando-se ao lado dele em um banco de praça, e como que por educação, começaram a conversar. Ela havia se sentado para poder ler a mensagem que sua amiga lhe enviou pelo celular. O conteúdo era a descrição detalhada do cachorro de estimação que ela ganhara no aniversário. Aniversário este que Anita não pôde comparecer, pois estava visitando o pai no estado vizinho. O pai ainda tinha alguns compromissos durante as tardes dos dias de semana, então ela passeava pela cidade, visitava cafés, comprava roupas e brincos. Incluindo uma loja que visitara naquele mesmo dia, onde provou um brinco radiante, mas excessivamente caro, e acabou não o comprando. Isso queria dizer que...
            O garoto de sorriso engraçado olhou para ela, confuso. Uma pergunta escapara-lhe da boca mas Anita, absorta em seus pensamentos, a deixou voar para longe. Ele lhe perguntou se havia algum problema, e ela, coçando novamente a orelha, abriu sua bolsa, sem responder de imediato. O brinco perdido se achava lá dentro, esquecido na distração que lhe deu quando uma mulher, usando um chapéu altamente extravagante, entrou na loja no momento em que a vendedora dizia a Anita o preço do brinco radiante, que só havia lhe chamado a atenção pelo formato, que lhe lembrava o brinco usado pela vilã no filme que ela e o pai foram assistir na...
“Anita?”. Perguntou o garoto, puxando os pensamentos dela de volta para o presente. “O que aconteceu?”. Ele parecia genuinamente preocupado. Ela coçou a orelha sem brinco mais uma vez, pensando no que responder. Resolveu fechar a bolsa, ignorando a peça achada, e exclamou, em uma ótima atuação de voz: “Perdi o meu brinco!”. Não foi muito difícil convencê-lo a fazer o caminho inverso que ela caminhou, para ajuda-la a achar o objeto. Era um garoto muito prestativo. Talvez até se sentisse culpado quando eles não conseguissem encontrar nada. Como daquela vez em que Anita e sua melhor amiga estavam conversando em um parque perto da escola, e viram um garoto que parecia perdido, caminhando de um lado para...
            “Anita?”

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