Minimalista


            Minúscula, ela apareceu diante de seus olhos. Era escuro ainda, mas uma luminosidade promissora já invadia o céu. Ainda assim, Sofia se espantou com a descoberta da pequena flor roxa. Era tão timidamente baixa que as folhas da grama ameaçavam cobri-la, e as gotas de orvalho pesavam como pequenas pedras. No dia anterior, a mulher mal conseguia reparar nas grandes orquídeas chamativas, tamanha era sua distração. Agora, no entanto, encontrava-se no topo de uma montanha, com a imensidão do mundo deitando sob seus olhos e a promessa de um muito aguardado sol a surgir no horizonte. Nada daquele macrocosmo parecia ter a mesma importância que a miniatura de flor, como aquele detalhe esquecido da vida de Sofia que perdera o sentido perto do desespero e da frustração, mas que agora era relembrado e redescoberto como que por acaso. Foi uma boa decisão ter subido até aquele cume sagrado, a visão minimalista era prova disto.
            Os raios do sol finalmente surgiram, e Sofia abriu os olhos pela primeira vez para a clareza de cores ao seu redor, percebendo a luminosidade pulsante de cada tom, o que a fez pensar que a vida toda havia enxergado um mundo em tons de cinza. A flor roxa agora lhe chamava ainda mais a atenção, demonstrando o poder vívido de um roxo mais intenso que todas as outras cores, atraindo para aquelas minúsculas pétalas a energia solar de forma surpreendente. Sofia não apenas via isto acontecer, mas também sentia acontecendo, fazendo parte da vida que por anos ignorara.
            Feliz, se pôs a admirar o nascer do sol. Era o mesmo sol de sempre, mas somente a partir deste dia Sofia soube dizer o que havia de belo na luz do sol. Agora, ela o compreendia.

Comentários

  1. Estar no centro de lugar algum e ao redor de todos os lugares. Isso é o que me lembra.
    Muito bom!

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