Pela Metade
O dia claro zombava da situação, do local, e das pessoas que se punham a chorar próximas a uma grande caixa de madeira lustrada, cujo conteúdo um dia conheceu todos ali presentes. A grande maioria ensaiara o choro no dia anterior, e o resto simplesmente abaixava a cabeça e imitava exagerados soluços. Cinco pessoas não pareciam estar de acordo com a atmosfera: quatro fortes homens contratados para fazerem o trabalho sujo: carregar e enterrar o caixão, e o padre. Este, embora tivesse comovente voz, parecia não se importar com a dor que todos deveriam estar sentindo. Na verdade, ele parecia estar menos comovido do que aqueles que fingiam o soluço. Seu discurso, nem precisou ensaiar, pois sempre fizera o mesmo discurso todas as vezes, o que lhe poupava saber quem era aquele merecedor de suas palavras. Vazias elas ecoavam até os ouvidos que tentavam prestar atenção no tic-tac do relógio. Quando o padre terminou de falar, dois homens de meia-idade saíram em silêncio, tentando não serem ...