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Mostrando postagens de setembro, 2012

O Mistério da Ponte do Caí

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            A sombra do pequeno grupo chegou antes deles, assim como o barulho dos pés correndo sobre a estrada de chão e os gritos excitados e urgentes que ordenavam pressa.             Clara viu os meninos passarem velozes por ela sem a notarem, e isso era apenas rotina. Garotos são idiotas, eles saem correndo e gritando, e nunca se sabe muito bem para onde eles vão. Ela nem ligava, na verdade, gostava apenas de conversar com Rique, e é por ele que ela estava procurando. Ele, que sempre foi tão gentil e quieto, nunca se misturava com aquela turma problemática. Mas então por que ele estava correndo junto com os outros garotos? Curiosa e desconfiada, Clara decidiu segui-los. Estavam indo em direção à Ponte do Caí, nome que sempre lhe despertou interesse. Não era exatamente longe do bosque onde Rique disse que iria encontrá-la, logo, bastou correr por alguns minutos para Clara avistá-los. ...

Ana em Casa

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            Enquanto sentia o calor subir, Ana se lembrava das brincadeiras de infância. Fósforos, papéis do pai, bonecas de plástico, o cachorro do vizinho. Sua pele enrugada agora se contorcia em um riso descontrolado. Gargalhadas de uma mulher quase centenária ecoando pelo prédio em chamas. Era a vingança pessoal de Ana. Contra seus antigos amigos, seus filhos, seus netos. Eles a colocaram ali, para apodrecer no asilo em meio a pessoas que já haviam perdido a capacidade de pensar, graças aos cuidados exagerados dos hipócritas que ali trabalharam. E agora eles iriam pagar pelos pecados de outros. Uma troca justa, Ana não tinha dúvidas. Iriam pagar por Lúcia, sua neta, que convenceu os outros que sua avó precisava ser presa em uma casa para velhos. Ana viveu muitos anos, sim, mas a velhice ainda não a alcançara. Sua mente continuava saudável, completamente lúcida. E Marco? Aquele mentiroso depravado que tantas vezes a traíra. Nunca descobriram a v...

O Velho Tio Noel

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O horizonte estava tão vazio quanto seu futuro, e sua sacola, tão pesada quanto sua consciência. Nela guardava tesouros que despertavam a ambição dos homens, mas de nada adianta ter esses tesouros quando se caminha por uma estrada de chão no meio de uma paisagem deserta.             Lúcio Santos já não sentia dor quando seus joelhos cederam. Ouvia-se incessantemente um forte barulho, que fez Lúcio acordar. Quando abriu os olhos, a paisagem desolada não era mais a única coisa em sua visão. A estrada de chão passava veloz diante de seus olhos, e à sua esquerda um homem de meia idade sentava-se em um banco de couro e segurava nas mãos um volante. Lúcio procurou com os olhos a sua sacola, e isto fez com que o motorista percebesse que estava acordado. – Ainda bem que acordou, já tava pensando que cê ia morrer aqui dentro – Disse o caminhoneiro – Esta estrada só é usada duas vezes por mês, por mim, é claro. Cê teve muita sorte de desma...

O Fim do Homem de Terno

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            O homem nu estava pendurado pelos pulsos por uma grossa corrente, enquanto o homem de terno o observava sem piscar. Este sorriu e se aproximou do homem nu quando ele mostrou estar consciente. – O mundo continua girando, Sr. Magalhães, e vai continuar assim com ou sem você.             Samuel Magalhães nada disse, nem se mexeu. Seu olhar estava preso nos olhos do homem de terno. – Neste exato momento, dois coreanos lutam até morte, um americano está prestes a esmagar a cabeça da namorada e uma alemã se prepara para cometer suicídio. Eu vejo tudo, Sr. Magalhães, nada me escapa. Por isso, sei dessas atrocidades cometidas em nome do amor.             Samuel levantou a cabeça, sem quebrar a conexão que fazia com os olhos do homem de terno. Ambos tinham olhares desafiadores. – Você pode ficar aqui o dia inteiro ditando estes casos à part...